29 novembro 2012

ANTES AINDA DO ADVENTO

Reparando com atenção acabo de verificar que o tipo de letra pequenina sobre fundo preto faz de alguns dos meus blogs uma coisa um bocado sinistra...
Hoje aumento o tamanho da letra e não aumento muito mais porque pareceria a despropósito... Mas não era !  Se usasse uma letra enorme,seria pelo menos de acordo com a alegria do meu contentamento agora( não me enganei ao falar da alegria do contentamento, pois sabemos muito bem quantas vezes pode acontecer contentamento= satisfação de uma vontade, sem haver alegria nenhuma ). E porque digo "agora" ? Também porque me está acontecendo cada vez menos a alegria e se às vezes parece acontecer, rapidamente surge algo que a amortece...  Tudo isto porque vem aí o Natal. E,não se sendo criança ou não se tendo uma  família, a Festa que nasceu por causa da FAMÍLIA e da CRIANÇA, perde toda a sua razão de ser FESTA. Passa a ser mais uma reunião social que será levada para o lado que a imaginação, a criatividade, a vontade de fazer festa, e a capacidade financeira quiserem ou permitirem que ela penda.Quem, como eu, não tem família nem crianças a fazerem parte da sua vida, que prazer pode tirar de festividades que( pondo agora de parte o verdadeiro calor da crença religiosa ) só levantam o pó de lembranças há muito enterradas de propósito na fundura do que preferimos não lembrar ?
É isso ! Preferir não  lembrar... É uma época que temos forçosamente que viver, como se fosse um túnel que se tem que vencer para chegar ao lado d e lá...
E não posso nem quero ser tão pouco grata que não guarde no coração a imensa ternura de amigos que nesta época me têm envolvido em provas de um amor incomparável, de um amor que só pode ser uma prova concreta da presença de Deus a olhar por nós. ... Mas eu e a minha solidão estamos em ferida, nestes dias. É  bem melhor que ninguém desconfie ...
Então, retomando o meu fio inicial da alegria, direi que mais uma vez Deus veio ao meu caminho.Como vai fazer? Onde vai querer estar? E quando? E como? Nós queremo-la cá... Vai mesmo ser. Terei um Natal ! ! ! Como todos os outros que me têm dado . Eu é que sei que os não mereço. Que os mereço sempre menos... Por isso a alegria maior agora !

25 novembro 2012

Domingo de CRISTO REI

Imaginemos Daniel nas suas visões da  noite, a presenciar,entre as nuvens dos céus, a entronização daquela figura de Homem mal definida, junto do divino Ancião. Ecoam, reboam como sinos festivos provindo do APOCALIPSE  « A ELE  A  GLÓRIA E  O  PODER  PELOS  TEMPOS SEM  FIM» Podemos, nós mesmos vê.lo caminhar entre as nuvens,clamando com voz poderosa " Eu sou o alfa e 0 ómega, aquele que É,que Era  e  que Há-de  Vir".
É verdadeiramente fascinante sentirmo-nos envolvidos nesta  atmosfera rescendendo ás grandiosidades  repassadas dos comuns luxos orientais da época  em  que São João visionava as suas apoteóticas cenas do Apocalipse!  A juntar a toda esta grandiosidade, somos ainda ofuscados pela luz majestática que se filtra através de cada palavra do Salmo 93: Reina  o  Senhor vestido de esplendor . mais potente que o fragor do mar é o Senhor majestoso nas alturas...
Como não temeria PILATOS  tamanha rivalidade quando perguntando a Jesus se ele era rei,ouviu como resposta  «É  COMO  DIZES, SOU  REI !»
A  frase única e necessária naquela hora de definições, mas de humildade,

24 novembro 2012

ANTÓNIO GEDEÃO

... sobe. luisa. sobe... que eles não sabem que o sonho é uma constante na vida... ... que o sonho comanda a vida...É  GEDEÃO, claro !
Faria hoje 91 anos. Conheci-o bem e fui amiga da Natália,sua mulher.Todos nós"sabíamos" escrever, mas cada um em seu "tom" sendo naturalmente o de António o mais elevado,  simples no fraseado, como simples era o autor, no seu convívio . Sendo por formação académica um homem das Ciências  isso mesmo o levava a uma aplicação quase esquematizada das situações  da vida de todos os dias que lhe era patenteada  quer através das dezenas de alunos,quer pelo que a sua sensibilidade captava em cada ocasional cruzamento de rua da grande cidade ( SOBE LUISA...  A LÁGRIMA - nem vestígios de ódio...água e cloreto de sódio...). Introvertido por natureza, era de uma clarividência amável e junto dele respirava-se segurança . Tranquilidade, dizia a Natália que era romancista com uma capacidade de compreensão que lhe permitiu sempre produzir retratos fiéis daquela geração em que tínhamos á mão um sem número de traduções dos franceses da Françoise Sagan, do Camus ou da Beauvoir...
Serenamente Gedeão diria

Compreende-se.
Lá para o ano três mil e tal
                  
É tudo um vastíssimo cemitério
cacos, cinzas, e pó...

E o nosso sofrimento, pra que serviu, afinal ?


Para que o lembremos com saudade e admiração, sempre, quero eu dizer aqui, hoje.

23 novembro 2012

THANKSGIVING DAY - CELEBRAÇÃO FAMILIAR

Este fascínio que tenho pelo especial carinho que leva  todo um povo a entender dever criar um dia  SÓ   dedicado a agradecer  o bem e o bom e na verdade aVIDA,com todas as suas vicissitudes, faz com que eu não deixe passar este dia sem um pensamento especial, uma oração das muitas que crio numa intimidade só minha... E assim, lá fui buscar um lembrete feito há dois anos, mas vou juntar.lhe certamente algo que o deslizar do tempo, agora tão pesado, me lembrou:

Creio que foi o presidente Lincoln que, ainda durando a guerra civil americana , decidiu criar este dia votado ao agradecimento a Deus. Do que tenho lido, deduzo que há muitas hipóteses sobre a data de origem desta vontade de agradecer, tanto no que à cidade ou região se refere, como no que na verdade se agradece, mas o certo, certo ,é que na base sempre aparece a ligação à Terra, às colheitas, aos bons resultados de um ano de trabalho. Surgiram as refeições festivas com a família reunida na mesma alegria e lá apareceu o belo perú que foi alimentado dos produtos da terra e que, naturalmente grande, fazia o "prato forte" da festa...E para os americanos , canadianos e até por ligaçóes que desconheço, para os holandeses, nunca mais deixou de se ligar o mais belo perú da quinta á alegria gourmet destas celebrações de perto de um final de.ano maisou menos feliz e bem sucedido.
Por tudo isto, foi com um enorme sorriso e com um verdadeiro encantamento que vi hoje,num noticiário televisivo, um lindíssimo exemplar de perú deslumbrantemente branco e de penas entufadas como uma borla de pó de arroz dos velhos tempos, ser oferecido ao presidente Obhama e ser por ele aceite em cerimónia pública e com direito a um pequeno discurso brincalhão...
Hoje sou eu que faço aqui no meu canto o meu pequeno thanksgiving por ainda haver neste mundo corroído de pesados sentimentos, intrincadamente mal-pensantes, um presidente que aceita entrar publicamente numa das mais inocentes e significativas brincadeiras que ajudam a alegrar e congregar o "seu" povo,,,

20 novembro 2012

SELMA LAGERLOF

Numa das minhas leituras de jornais matinais acabo de ler que hoje seria de festejar o aniversário de Selma Lagerlof e não houve maneira ( nem razão) para calar um tumulto de recordações que o nome dessa escritora sueca veio agitar na minha memória. Ela viveu nas duas 2ª e 1ª metades respectivamente dos séculos XIX e XX  e em 1909 recebeu o prémio Nobel da Literatura.Tem uma numerosa produção literária mas, quanto a mim, a sua enorme glória foi A viagem maravilhosa de Niels Olgersson um infanto-juvenil que preencheu de sonhos umas férias grandes, em S.Pedro de Moel, teria eu cerca de 14 ou 15 anos. As férias em S.Pedro eram por si  mesmas a abertura para aquele imenso  mar cuja ausência de limites me sugestionava e estimulava as ambições de liberdade em mim inatas, o piar das gaivotas nas manhãs tapadas de nevoeiro, o aroma dos pinhais a enrolar-se na maresia...e os gansos do Niels Olgersson a rasgarem horizontes sobre um mundo a descobrir... Foi de não poder esquecer nunca! Lamento quando aos meus jovens alunos de agora não seja aconselhada a leitura desta extraordinária autora cuja obra e o seu visionamento nórdico só enriquece o panorama  europeu da literatura.

18 novembro 2012

vem chegando ...

Que  o tempo voa, que ainda ontem era verão e já só se fala em Natal, é uma realidade que se não pode refutar. Oiço muito dizer que isto é uma consequência da ansiedade comercial que acaba por se alargar a tudo o que nos rodeia. Eu sinto na minha vida que o desenrolar das estações e das épocas se acelerou proporcionalmente com o crescimento do número dos meus anos vividos, e atribuo isso ao facto de  que aprecio tanto cada particularidade que caracteriza cada parcela do ano vivido, que tenho pena de náo poder prolongar o prazer dessa vivência por mais tempo...Concentrei-me hoje, na  celebração da missa no facto de só nos faltar o próximo domingo dedicado ao Cristo-Rei para estar acabado este ano litúrgico e estarmos de facto às portas do Advento. É verdade que jornais, revistas e televisão e rádio já ha um bom par de semanas nos estão manipulando os desejos e a cobiça para as famosas compras sem as quais parece que não haveria o nascimento do Menino Jesus e a ofertas que lhe fizeram esses míticos Reis Magos... Mas o Advento, meu Deus, quanta beleza naquela espera meio mãgica, transportadora, ela sim de quantas alegres esperanças !    !  ! Escuso de tornar mais clara a minha preferência por esta época e então, talvez por isso, atentei hoje pela primeira vez, chamada a minha atenção pela homilia do sacerdote, que a linguagem destes últimos evangelhos do ano nos transporta por vezes para o tom apocalíptico e nos pode induzir à previsão de uma vida eterna que realmente o Senhor,nosso Deus, projecta para os fieis à misericórdia do seu Amor sem limites como o de um Pai que tão bem conhece os filhos que tem...

11 novembro 2012

Sendo hoje domingo e  Dia de São Martinho,não quero  deixar de anotar umas quantas considerações não só por um, como pelos dois motivos.Na liturgia do dia de hoje era impossível ficar indiferente, já por se tratar de viúvas como figuras em evidência, e especialmente  de viú
vas pobres cujas possibilidades financeiras eram abaixo de permitirem qualquer tipo de generosidade.  A viúva de Sarepta não tinha de que fazer pão para si e seu filho quando econtrou  Elias (Livro dos Reis) e a viúva que Jesus viu na Sala do Tesouro a deixar as últimas das parcas moedas que possuia (São Marcos), ficariam a viver de esmolas ou então sucumbiriam à míngua, se não fosse a resposta que apenas a misericórdia de Deus pode dar a todos aqueles que nEle confiam e são capazes de ser generosos até à derradeira migalha exactamente porque confiam sem cálculos, sem" arriéres  pensées". Que belo e quão a-propósito este quadro de meditação!
Do querido São Martinho, o doce Bispo de Tours, que recebeu a homenagem de umas renascidas rosas nos jardins das casas por onde passava o cortejo que o levava a enterrar,lembrei uma vez mais as populares relações que prendem a sua memória às actividades da lavoura, no começo dos frios, carnes,vinhos e frutos rijos e também não ficou esquecida a mais célebre capa militar rasgada ao meio para cobrir do frio um pobre semi-nu..
Foi todo um renovar do apelo ao nosso AMOR pelo "outro" nas mais inesperadas situações, este Domingo que mesmo sem ser "feriado" nos permitiu prestar homenagem a tanta situação que a merecia...

06 novembro 2012

No dia de anos de SOPHIA

Era  límpida  a luz
derramada,sem mancha,
sobre as vagas inquietas
a espumar, a  escorrer sobre a areia.

Era princípio ainda;
do dia  impuro nada se sabia.
Havia  apenas, amplo,iniciático.
o lugar para os sonhos de partida...

Se chegava a ouvir-se o canto da sereia,
ou se apenas o som cavo, enigmático,
das grutas onde nasce a maresia,
quem podia saber ?Quem poderia ?

Misteriosamente
abriam-se horizontes
entre reminiscências de passado...
No ar, repercutia
um murmúrio salgado e insistente
apenas a lembrar.nos que existia
o areal, a praia, o MUNDO  de  SOPHIA !

do meu livro Sinestesias

02 novembro 2012

Dia de Finados

É  hoje  o dia  devotado pela nossa religião  à particular  homenagem, preito público áqueles que perdemos, ostentando da forma que nos parece mais eloquente a nossa saudade, o amor que lhes tínhamos e a falta que deles sentimos. E tornou-se  uniforme a maneira de exteriorizar tudo isso; com braçadas de flores, de acordo com as posses de cada um para adquiri-las( elas aumentam escandalosamente de preço neste dia ) as pessoas invadem os cemitérios  onde acaso só vão nesse dia do ano e cada cemitério borbulha de movimento e resplandece de cores numa inacreditável competição de beleza e imaginação floral. Acontece, como já dei sobejamente a entender, que não é esta "a minha praia " como está sendo moda  explicar a nossa não adesão a qualquer coisa. E como que me sentia um pouco envergonhada por não estar com os outros, todos os outros, nestas incursões fúnebres e alegres ao mesmo tempo,como me pareciam.  Quando há dois dias oiço um senhor Bispo, creio que Auxiliar do  Porto, ao ser entrevistado na TV, explicar aos entrevistadores  a percepção correcta do conteúdo de cada peça funerária de qualquer cemitério, seja ela monumental ou terra rasa, lembrando que são de respeito todas estas exteriorizações, mas de AMOR, do verdadeiro AMOR , daquele com que DEUS nos ama sempre até à eternidade, as únicas homenagens serão sempre e só as que ,em vida daqueles que perdemos, fomos capazes de lhes prestar com a riqueza dos nossos corações. De como me senti acompanhada, nem é preciso dizê-lo, mas como senti que a simplicidade da rosa branca explicaria muito, aí a deixo a falar por mim da minha saudade... 
          

01 novembro 2012

No dia 31 de outubro

                     

                       Falta  a  luz  dos  teus  olhos  na  paisagem;
                       O oiro  dos  restolhos  não  fulgura.
                       Os caminhos  tropeçam  à  procura
                       da  recta claridade dos  teus  passos.
                       Os horizontes, baços,
                       muram  a  tua  ausência.

                       Sem transparência,
                       o mesmo rio que te reflectiu
                       afoga, agora, o teu perfil  perdido.

                      Por  te  não  ver, a Vida anoiteceu
                      à  hora  em  que  teria  amanhecido...

de  Miguel Torga