Em 1980 conheci António Lobo Antunes. Não sei se foi coincidente com a sua estreia, mas dele dizia João de Melo em 1979 « emerge num repente... ... a firme crença nos valores sensíveis da amizade, a paredes meias com outros seres sem destino certo à sua volta. ... dá-nos de estreia um dos romances mais importantes desta escrita entre nós ainda escassa do após-abril e da liberdade criadora que daí para cá se perspectivou »Era isto a propósito do Memória de elefante.Ponto de partida para a minha admiração pelo autor, de tal forma confirmada com posteriores leituras que muito me ouviram os amigos protestar pela nunca atribuição do Nobel a ele no lugar de outros...
E fomos vivendo.Tanta, tanta coisa foi acontecendo e nos surpreendendo !... Quanta vez fui à minha estante tirar o Memória de elefante só para reler, a propósito de coisas acontecidas, aquela frase com que Lobo Antunes "apadrinha" o livro e que é da sabedoria do DÉDÉ quando foge da cadeia «Há sempre uma abébia para dar o frosque, por isso aguentem-se à bronca »...A nossa forma de sermos os seres sociais dos anos 80 levou impulsos que nos arrastaram por onde nunca pensáramos ir. Mas provavelmente não nos "educámos" para uma outra era.. Todos temos algo de DÉDÉ..E algumas décadas de vida ajudam muito a arranjarmos a nossa pópria maneira de nos "aguentarmos à bronca". Lobo Antunes foi ontem entrevistado pela TV nos a-propósitos que a estação arranja e consegue.E o que vimos e ouvimos foi talvez um dos melhores e mais trabalhados personagens que o autor alguma vez construiu. Do homem polido pela vida, desapareceu a essência pura e ficou uma elaboradíssima construção, entre o "blasé" e o humilde- superior ou superior-humilde que fiquei a pensar talvez sejam a abébia para ele dar o frosque...Aquela sua cabeça é bem capaz de imaginar isto...
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