Há muito tempo que deixei de ver cinema. Que deixei de ir ao cinema. Como a muitas outras coisas.Tudo aquilo que me ponha num limitado ambiente de alienação me afugenta. Pela dificuldade que tenho depois em entrar de chofre numa outra realidade.Com os livros, às vezes quase acontece o mesmo, se são muito absorventes, mas consigo manter sempre um certo controlo sobre pausas e interrupções, que no cinema não posso fazer.Li ultimamente alguns romances, do Dan Brown e Mia Couto a José Rodrigues dos Santos e António Lobo Antunes, um pouco em sessões contínuas porque os tinha recebido ao mesmo tempo e todos me mereciam a mesma curiosidade, cada um por suas razões especiais, mas sempre consegui, depois de cada momento de leitura, centrar-me rapidamente nos meus onde, como, quando, porquê e para quê que me haviam levado a lê-los dessa forma.
Agora, porém, uma amiga trouxe-me, em vez de um livro, um filme.Como um ingrediente de peso a juntar ao que se leria, há que contar com a interpretação, o tratamento que o actor dá ao personagem e que pode ajudar ou desajudar completamente a mensagem que o autor quis passar ao criar o seu "pinóquio"... Neste filme a actriz principal é já uma ganhadora de um Óscar pelo seu talento e o seu partenaire é quanto a mim perfeito, especialmente nos seus silêncios regorgitantes de intencionalidades. O autor do livro - Bernhard Schlink - recebeu inclusivamente o prémio de Literatura do Die Welt em 1999.E assim se juntaram uns tantos ingredientes para que o filme fosse bom e premiado.
Quando eu julgo que já nada mais se poderá contar ( e me poderá ainda amarfanhar ) sobre os horrores dos campos de concentração alemães, lá aparece sempre mais uma outra perspectiva,( até o analfabetismo numa Alemanha dos anos 40! ), mais uma chaga que ainda não fechou no coração de alguém. Juntar a tanta dor, a tanta baixeza, a amostragem do erotismo que nem sob a chuva de bombas na mais desesperada miséria humana deixou de existir e fazer disso o polo comercial da história a contar ( e a vender...) isso é que serviu para que a minha alienação não fosse tão longe, mesmo ao fim de uma hora e quarenta a conviver com tudo isso.
É salutar deixar que as feridas sarem mesmo que as cicatrizes fiquem sempre a
arrepanhar um bocadinho. Fazê-las render, porquê, para quê ?...
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