Lindíssimas, todas nos tons deslizantes entre o amarelo torrado e o vermelho-sangue, as flores em braçadas maciças, como sempre, oferecidas por San Remo, lá estavam a emoldurar tudo o que é emoldurável, a sala repleta de um público tão homogénio na sua forma de vestir como na sua forma de reagir à música que lhe é oferecida, como na sua maneira de aplaudir, que chega a dar-nos a impressão de que ficaram lá sentados todos, desde o ano passado e do anterior e do outro ainda anterior e por aí fora...É do Concerto de Ano Novo em Viena que eu estou a falar, ainda sob a impressão fortíssima que ele me deixou uma vez mais, pois acaba de ser transmitido há apenas minutos.A família Strauss com as suas polcas, galopes, marchas e VALSAS, este ano ainda "permitiu" um ou outro compositor, como Hayden,de que me lembro, mas o que fez deste concerto algo de especial foi o maestro. BARENBOIM é um extraordinário intérprete daquilo que certamente os compositores queriam transmitir nas suas obras. Pelo menos é essa a impressão com que se fica quando ele passa de uma alegria esfusiante para um sentimentalismo sussurrante, ou de um ritmo requebrado para uma correria desenfreada, tudo com um tirar da orquestra efeitos absolutamente originais. Provavelmente a minha admiração por Barenboim também estará um pouco marcada pelo que sei que ele tenta fazer em favor de uma paz que a cada dia que passa parece mais impossível.Se israelitas e palestinianos conseguem conviver harmoniosamente numa orquestra que não é a Filarmónica de Viena, mas que ele criou para ser pelo menos tão boa quanto esta, como é que um homem destes não há-de fazer tudo o que pode para conseguir que aqueles dois povos se respeitem e enterrem de uma vez os seus machados de guerra ?
Creio que não haverá ninguém no mundo da boa vontade que não esteja impressionado com o que tem sido o Natal na Palestina, por mais próximo no tempo, mas de um modo geral no mundo da dor que ,ao fim e ao cabo, resulta da cada vez mais densa e opaca pobreza . Hoje, na homilia da missa no Vaticano, sendo este o Dia Mundial da Paz, o Papa fez uma espécie de sistematização das pobrezas que nunca me tinha ocorrido e, com a cabeça cheia da música de Barenboim, acabei relacionando e lamentando certas exibições patenteadas nas múltiplas formas de passagens de ano que a comunicação social lançou em reportagens ou notícias por esse mundo fora. A qual das diferentes pobrezas terá quem possa (ou saiba )que acudir primeiro ?
E eu ?... Vejo -me a abeirar do ano de 2009 cheia de dúvidas e a tentar furiosamente salvaguardar algumas certezas que não deixo que me tirem.
1 comentário:
Também vi (e ouvi). :)))))))))))
E também ando com mais dúvidas do que desejaria... Acho que lhe venho cá roubar um bocadinho da fúria, como sempre! ;)
Jinhos.
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