Quando Maomé não vai à montanha, lá vai a montanha a Maomé. E muitas vezes,nos dias de agora, é a televisão que coloca a montanha dentro da casa de Maomé...
Assisti, por simples acaso, a uma entrevista dada por José Eduardo Agualusa, autor que aprecio por tantas razões que até o recomendo a alunos não só para prazer de ler, como para fazerem certos trabalhos cujo ponto de partida os professores das Escolas deixam à sua livre escolha.
A entrevista a que assisti cheia de interesse, como se depreenderá, estava encastrada num programa que a RTP preparara para celebrar, louvar, estimular e dar estatuto de espontaneidade, propensão natural da nossa gente para uma multiculturalidade que prove que somos um povo acolhedor e não racista para o que nos terá preparado e dotado a antiquíssima convivência com todos os povos do mundo que então andámos descobrindo. Era uma sala de teatro repleta de convidados de todas as proveniências e raças e que hoje habitam entre nós. E foram-se contando e mostrando exemplos, uns mais bem sucedidos que outros, como é natural, mas todos mostrando o quanto havia de positivo neste convívio português.
E assim surge AGUALUSA um escritor angolano, formado em universidades portuguesas, com vários prémios literários atribuidos em Portugal( lembro-me que um deles foi mesmo o de REVELAÇÃO) e usuário de um português fluente e correcto, uma das valias daquilo que escreve.
Tendo vindo à tona da conversa a dificuldade que é para a aculturação a língua, o português e o impacte que pode vir a ter o Acordo Luso-Brasileiro, AGUALUSA afirma que nada poderá afectar o português que "serve" a multiculturalidade porque verdadeiramente NUNCA foi uma língua estreme, dado que na sua constituição desde muito cedo teve séculos de influências até de línguas africanas ( falando quase "en passant" da presença árabe que é africana, em bom rigor ) e passando logo a falar do brasileiro que é hoje praticamente o único português conhecido no mundo, ilustrando a sua afirmação com uma históriasinha passada consigo e um menino brasileiro... Bem, eu penso que uma conversa assim,não pode ser feita por ignorância da parte de uma pessoa com a responsabilidade de um premiado literário, tão pouco a entrevistadora estava ali para estabelecer contraditórios com os entrevistados, mas a presença de tantos estrangeiros cheios de boa vontade, simpatia e alguns até gratidão para com tudo o que é português, transformou aquelas afirmações num deslize muito desagradável, se não quisermos pensar que foi uma maldadesinha. Se uma língua aparece já em pleno século IX EM DOCUMENTOS NOTARIAIS e em 1198 aparece a famosa Cantiga da Garvaia, como é que só vale a pena falar das influências norte-africanas quando a maior parte do nosso vocabulário já estava constituido ?
1 comentário:
Ora nem mais!!!
Também gosto muito do Agualusa, é tão completo, tão inteligente, tão humano, tão engraçado, um mestre! -
acho que foi o primeiro escritor de quem li tudo, tudo, tudo...
Jinhos.
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