Como certamente alguns milhares de portugueses, ontem, porque foi domingo, fim de férias e até fim de muitas outras coisas, sentei-me frente ao televisor SÓ para ver televisão. É muito raro fazer isto. Faz-se sempre qualquer outra coisa, enquanto no televisor escorre também qualquer coisa. Não ! Não pertenço àquele grupo de pessoas que não gostam que os outros saibam que elas vêem televisão. Eu vejo televisão. Quando sei que há para ser vista alguma coisa que me interessa ou me apetece ver. Sem complexos de culpa, sem medos de que me classifiquem de qualquer coisa menos honrosa para as minhas qualificações intelectuais, sociais ou até morais. Mas, como disse atrás, raramente estou sem me ocupar de alguma maneira física, isto também dependendo do valor que atribuo ao que surge para ser visto.
Assim, então, ontem quis ver o encerramento dos Jogos Olímpicos . Porque tinha visto as cerimónias da respectiva abertura, e ficara boquiaberta com tanto dourado, tanto prateado, tantos jogos de luzes, tantos vermelhos, tantos amarelos, tantas pessoas, tantas,tantas... Que cantavam em sons guturais agudíssimos, que dançavam em ritmos envolventes e inesperados ... Tantos, tantos, tantos...E ENTRETANTO tinha-se gerado um verdadeiro mundo quase surreal de vivências desconhecidas para mim, como para tanta outra gente, em que aos personagens se exigia apenas esta simples coisa : que fossem heróis. Ou talvez semi-deuses...Vi-os, espalhados por vários noticiários, a rir ou a chorar, tensos, gloriosos ou desiludidos e não me foi possível esquecer alguns daqueles esgares, durante muitos dias. O MEU mundo estava realmente a ser confrontado com algo que o abalava !E se eu já tinha convivido com notícias de Olimpíadas ! Com a minha idade...Porém, tinha posto na balança das minhas expectativas aquele meu gostinho curioso pelas coisas orientais, por aquela poesia tão capaz de sintetizar os mais complexos sentimentos em cinco ou seis sílabas das quais nós, ocidentais, ainda não sabemos se entendemos tudo...Pensava na leveza dos desenhos, na frescura dos temas... e tudo me saiu pesado e denso para uma forma agora tão dura e tão nova de se estar em qualquer forma de vida !
Foi por isso pois que quis, ontem, ver uma outra cerimónia.Para me certificar.
Hoje reli alguns dos meus poetas chineses.
Agora só tenho que procurar esquecer o drama que adivinhei através de algumas lágrimas difundidas pelos telejornais. E porque não lembrar mais vezes o sorriso bonito daquele português que nasceu longe e voltou da China, feliz ?
É tudo uma questão de equilíbrio de valores. Ou não?
1 comentário:
Também vejo televisão. :) E também entristeço-me com o que ela faz muitas vezes.
Não obstante, o endeusamento dos atletas olímpicos datar já da Antiguidade Clássica, o que a televisão fez há tempos não foi bonito, foi de resto como se veio a constatar no fim perigoso, ao passo que, agora com os paralímpicos, está a fazer exactamente o oposto... Coisas...
Jinhos.
P.S. Também registei o sorriso bonito, e o olhar sereno, do nosso herói de facto. ;)
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