28 agosto 2008

Chuva de Verão sob um olhar antigo


Houve um único dia durante as minhas férias no campo que,depois de sempre com sol e quase sempre com vento, amanheceu sombrio e calmo,nuvens baixas sem descontinuidades, todas as cores da paisagem ensombradas por uma espécie de patine poeirenta,ficando o lençol de água do lago com a aparência gelatinosa e grossa de uma qualquer água de valeta... Da beleza que a luz acrescenta às coisas, se dúvidas tinha, ali tinha uma prova que mas tirava. Não tive porém nenhuma dúvida sobre a altíssima tensão a que a Natureza fica sujeita sob uma prolongada sequência de dias não só soalheiros, mas de calores muito intensos. Apesar de descolorida e baça, a vegetação parecia em repouso e no ar espalhou-se mais forte uma mistura de aromas frescos e identificáveis separadamente...Quando, quase a medo,caíram as primeiras gotas muito grossas de uma chuva que viria a tornar-se copiosa, pareceu-me que estava consumado algo como um encontro desejado de longa data...
A ver chover lá fora e com todas estas "impressões" gravadas, não demorou muito que não traduzisse tudo assim :


Hoje, sem ninguém esperar, cobriu-se o céu
e uma poeira ténue, acinzentada,
veio cobrir de manso, como um véu,
a paisagem que há muito era dourada.

Voluptuosa, a Terra estremeceu
sob a carícia meiga e inesperada.
Cheia de sede, sôfrega, bebeu
ébria,fora de si, transfigurada.

Foi distendendo os ramos, saciada,
cada árvore, cada planta, cada flor...
E à noite veio a calma perfumada,

húmida, densa, a recordar calor.
No ar, o aroma da terra molhada
será que entoava uma canção de amor ?...

2 comentários:

Joana disse...

O seu olhar não é antigo.

O seu olhar (também) "acrescenta beleza às coisas".

E isso além de admirável e extraordinário, é intemporal. :)

Jinhos.

Anónimo disse...

Que bonito. Que bela e generosa ideia! Zilda