Estamos tão habituados á paz meteorológica em que esta nossa Lisboa nos permite viver que, mal os elementos da natureza se revolvam um pouquinho mais, começamos imediatamente a lamentar-nos e a exagerar os relatos dos danos, se os houver, e dos medos,que os há sempre. Hoje houve vento. Muito. Ao longo da noite e da madrugada tivemos um ruído de fundo insistente, como um rolar de grossas arcas pesadas, uma fortíssima pressão nas janelas que felizmente tinhamos sido prevenidos para acautelar, e um estralejar das bátegas de chuva grossa que acompanhou quase sempre o vento. Foi um clássico temporal com todos os EFES e ERRES,só que não houve trovoada. E com o abrir da manhã serenou ligeiramente... Claro está que quem era mesmo obrigado a saír passava mal, quem tinha que conduzir carros tinha maus bocados a passar, entre filas nascidas a cada momento,ora por coisas soltas caídas no pavimento, ora por qualquer azar na condução do vizinho atrás à frente ou ao lado...um quase caos. E assim os noticiários puderam alargar-se à vontade contando,como é óbvio, as acções da Protecção Civil e as dos bombeiros e todos os detalhes que a sua abrangência lhes possibilita.
Dizia o EÇA, creio que na Correspondência de Fradique Mendes, era Lisboa e chovia... Pois.
Se houver por aí quem seja da minha geração, lembram-se do CICLONE ?
194?... Foi, diriam os brasileiros, um fim de mundo em Lisboa ! Basta dizer que uma fábrica de cerâmica que existia onde é hoje a Caixa Geral de Depósitos, tinha parte dos seus telhados em placas onduladas e sobrepostas de um material chamado lusalite( será?). Pois esse telhados voavavam pela avenida abaixo como se fossem folhas de plantas, com umm barulho ensurdecedor a acompanhar... E houve uma senhora a quem voou a dentadura, ao abrir a boca para chamar socorro... A sério ! Bom, foi muito mau. E foi a minha vacina para ventos assim, como estes de hoje. Vento que,a espaços, punha as orelhas do meu gato todas em riste ao mesmo tempo que corria bem para longe de qualquer janela...
ído
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