07 março 2011

Carnaval

Domingo de CARNAVAL
Estamos em pleno período de Carnaval .Lisboa está a disfrutar os seus dias de pacatez e certamente isso acontece por esse país além, em todas as cidades e vilas e lugares que não se sentiram vocacionados para o gozo e divertimento públicos em data e hora marcadas pelos calendários internacionalizados.Se olharmos esta época como uma boa oportunidade de pausa para tarefas que mais ou menos a justifiquem,ela é pura e simplesmente deliciosa...Recordo as minhas fériasinhas em Saint Cergue e no Tirol, aquelas escapadelas de um só dia às concorridíssimas pistas de neve cujos nomes só recordo quando há transmissões de corridas pela TV...Mas isso não é aquilo a que vulgarmente se chama CARNAVAL. Esta festividade,como quase todas as que entraram na tradição popular, com mais ou menos legitimidade, vai radicar~se em tão antigas como deturpadas origens.A degradação social e moral que veio acontecendo progressivamente antes da chegada de CÉSAR ao poder,em ROMA, acrescida da quase total aceitação pelos Romanos dos nomes dos deuses gregos em substituição dos dos seus próprios deuses, tornou como que mais liberal e depois mesmo libertina a relação dos homens com os deuses, visto que os deuses gregos tinham características menos míticas e qualidades mais humanas do que os deuses romanos. E assim as inúmeras festas que eram feitas em suas homenagens foram adquirindo configurações especialíssimas consoante fosse a "esfera de acção" do deus celebrado. Foi assim que, em 186 AC, as Bacanais levaram à prisão e execução inúmeras pessoas que tomavam parte nas festas.Baco era o nome que os Romanos haviam retirado de uns gritos de euforia produzidos pelos gregos nas festas de DIONISOS, deus do vinho e dos prazeres.A isto e muito mais se deve o CARNE(M)( VALE que apareceu não logo, logo,como a medieval tradução literal do"adeus à carne", mas ainda como aquela festa em que nada parece mal, como ficou registada no adagiário português.Ignoro como o Mundo girou para que o grande Carnaval das loucuras fosse acontecer noBRASIL,ou como, no séculoXVIII, em Veneza, requintadas damas e viciosos Casanovas criaram a sua lindíssima tradição carnavalesca. Porém intuo que os rebolados nus brasileiros devem ter muito que ver com o clima e quedo-me perplexa ao ver em Portugal, agora , despirem-se com estes frios, ao sabor da imitação mais descabida...A tradição portuguesa nunca foi de nus. Estou a pensar em como se estragava a roupa, nos anos trinta ( séc.XX), quando grupos de foliões, ao virar de uma esquina, nos esborrachavam ovos e pastéis e outras coisas pastosas, sobre os fatos e os cabelos. O que eu própria sofri sendo atacada à saída do colégio , com bisnagas esguichando líquidos de que eu tinha verdadeiro terror.E as pancadas secas de uns certos saquinhos jogados com mestria para se esvaziarem de areia sobre as nossas cabeças e roupas. Mas, agora mesmo, os executantes da Dança dos Cuzes, em Cabanas de Viriato, estão vestidos da cabeça aos pés e também os coloridos Caretos são uns peludos e totais disfarces...Tudo isto nos fala de um carnaval de rua. Mas as mais lindas versões de Carnavais de Salão, bem portugueses ,de princípios do século XX,são as que me foram contadas _vividas_ pelos meus Pais.No Porto e em Beja.No Porto,uma das noites de Carnaval era de ida a um dos teatros da cidade, todos vestidos rigorosamente de gala,senhoras e senhores. E então,"jogava-se" ,em troca das serpentinas das actrizes, atirando para o palco caixas com joias verdadeiras...Em Beja, havia, no Clube, três bailes de gala ( um por cada noite), onde as ceias eram volantes.Na hora própria, entravam no salão de baile pequenos carrinhos puxados por carneiros de pêlo alvíssimo decorado com laços de fitas de cores,carrinhos esses que vinham "carregados" com as mais variadas iguarias armadas artística e tentadoramente.Os carrinhos iam circulando e todos se iam locupletando a gosto...A que distância de tudo isto fica a actual passagem de cortejos onde se mostra uma preferência nítida pela perversão na confusão dos sexos ou pelas piadas pesadas sobre política ou sobre factos sociais,tudo muito nu e...ao frioAproxima-se então de novo a época em que todos vamos saber porque dizemos CARNE(M) VALE...

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