...e uma vez aqui chegados, vemo-nos de novo inelutavelmente arrastados pela onda do habitual, do quotidiano ( mais ou menos rotineiro ), do conformismo social, do antes assim que pior.Claro que esta generalização já está a ser verdade para apenas um grupo dos chamados sortudos aos quais ainda é possível retomar qualquer coisa interrompida, nem que seja o não fazer nada voluntário, porque é desoladoramente presente aos nossos olhos a mole imensa que cresce todos os dias daqueles que se vêem sem nada para retomar, repetir ou continuar.
Que pena constatar tudo isto no dealbar de um Ano Novo, época que fui formatada a relacionar com a Esperança de só "coisas boas" e "novas" !
É ainda por isso e em consequência do que disse a começar, que de novo me vejo sentada "no meu canto",sem a inquietação dos actos sociais para os quais nos empurra a solenidade das celebrações e, ao mesmo tempo, o apelo do reencontro com amigos ou parentes que só nestas datas se torna possível. Que datas ? Pois o Natal e as suas envolvências.
Como me lembro do tempo em que não havia esta forma de pressão porque é tradicional e "deve ser agora ou então não é mais, em todo o ano" ! Havia às terças-feiras o chásinho em casa da Tia X, às quintas jantava-se com os Avós, aos domingos, depois da missa ia-se almoçar com os XY, amigos desde a escola dos Pais, e por aí fora, iamo-nos vendo, acompanhávamo-nos e sabíamos coisas uns dos outros... Arranjar-se-ão já umas quantas desculpas para passarmos um ano inteiro sem nos vermos e consequentemente sem sabermos do fundo da alma dos outros...Tudo se remedeia com meia dúzia de telefonemas, e-mails ou sms's, porque se trabalha todo o dia, porque se mora longe, porque os transportes... ... E não se vêem os olhos pisados, os ombros descaídos, o tornozelo inchado ou um clarão no olhar de uma alegria que se não diz ,às vezes só porque se transformou o arrumo dum quarto, se adquiriu uma planta nova...Não se sabe da nossa casa, como não se sabe de nós, porque não nos frequentamos.
Mas, retomando o meu fio inicial, não foi mais uma vez sem emoção que fechei a última gaveta com a última caixa dos ouropéis que deram tanto brilho à árvore, ao presépio, aos recantos e às mesas com que festejei os meus amigos que vieram. Nada disto parece ter muito que ver com
aquele recomeçar, no meu canto, mas faltou aí o regresso da alegria nas presenças dos alunos.Faltava aí falar nessa onda que me arrebata para um renovo que já não espero, mas lá desponta tímido e feliz...
Faltaria sempre falar daquela Esperança que ultrapassa costumes, usos e desusos,e até a insofrida política desgastante. Faltaria sempre falar daquela Esperança que começámos a ter com ISAÍAS...
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