29 janeiro 2010

Quando a palavra não é de prata

Um dos provérbios que aprendi na Escola foi ... o slêncio é de ouro e a palavra é prata...Creio que me ensinaram isto, porque eu era uma tagarela muito dificilmente controlável, mas esse gosto de comunicar faz parte da minha constituição e só com o advir da maturidade me apercebi do enorme potencial do silêncio e da perigosidade da palavra...
Aconteceu-me há dias um convite encantador de uns amigos para ir com eles fazer um passeio ~por uma região que muito aprecio, de campos amplos, cultivados, aqui e ali irrigados por boas manchas de água, vizinhas ainda do Tejo, zona de boas e antigas propriedades rurais hoje conhecidas ou pela sua produção de vinho ou pela sua criação de cavalos, um país "limpo", genuino, em cujas vilas cheira a pão quente e a adegas frescas de vinhos bem perfumados...
Este convite era também para justamente almoçar , claro está que um almoço a condizer com o ambiente ... E então, com o restaurante já previamente escolhido por informação que o meu amigo procurara, vimo-nos recebidos num ambiente atraente, cavacas a arder na lareira, mesas postas com toalhas de bordadinhos simples, da região, fotos nas paredes de motivos tradicionais
do local, enfim, mesmo apetitoso para satisfazer as fomes e os frios que levávamos. E é-nos apresentada a "lista" das comidas típicas e características da terra de uma forma original pois foi feito oralmente e com explicação minuciosa da composição de cada prato, pelo dono do restaurante.Até aí, engraçado, fora do comum... Só que daí por diante nunca mais parou a catadupa de palavras com que aquele anfitrião achou por bem mimosear-nos, na ânsia de tudo contar, tudo explicar, tudo mostrar do que se fazia na casa, na terra, nos arredores, no país...
Não nos deixou um só instante e estava feliz, rejubilava, nós só podendo ir dando a menor réplica possível, já a medo, porque cada palavra nossa suscitava a tumultuosa continuação de novas explicações, apresentações etc. Aquele homem conhcia literatura, arte, história, política e tudo e tudo, para além da comida ( que aliás era excelente ) que nos punha na mesa ! ! ! Saímos bem almoçados, sim, mas sem vontade de voltar... Que pena ! O restaurante não tinha outros clientes senão nós. Seria já por isso ? Aquele homem está afogado em solidão certamente...
Mas para ele é que o silêncio seria de ouro, se tivessemos tido oportunidade de lho dizer...

1 comentário:

Joana disse...

Conclusão desarmante. :)))))

Infelizmente, a solidão é uma condição cada vez mais comum nas sociedades modernas.


(Pelo menos alguém rejubilou. :)))) E a situação sempre
nos leva a pensar nas vidas que existem tão longe de tão diferentes das nossas.)

Jinhos.