Por mais que puxasse pela memória, não consegui fixar-me nem em qual teria sido a primeira, nem em quantas vezes visitei, estive ou passei pela cidade de Setúbal. Lembro bem a última, em que fui convidada pela Escola Superior de Educação ( creio ser este o seu nome oficial) para falar sobre Bocage em companhia com duas amigas que iam lendo poemas dele, ao a propósito do que eu ia dizendo. É um campus universitário magnífico, inserido na paisagem e pensado para uma população de jovens modernos, à boa maneira de Siza Vieira. Sei que foi uma visita alegre em que inclusivamente a Tuna acabou improvisando uma musiquinha muito bonita para um pequeno poema do poeta celebrado que eu lhe lançara à maneira de mote ...e desafio.
Recordação bem mais antiga, um fim de semana de dois dias passado na Estalagem de São Filipe (será que ainda existe e com este nome?), instalada no Castelo ou Forte com esse nome. Uma situação magnífica, com o rio Sado já a fazer-se estuário ali aos nossos pés...
Mais atrás ainda, muito mais atrás, um passeio por uma avenida arborizada, onde, a certa altura, me mostraram o monumento a outra jóia da cidade, Luiza Todi. E, logo a seguir um almoço em que comi pela primeira vez um peixe delicioso que em casa se não comia porque o meu Pai o detestava:o salmonete.
Era ali uma especialidade, já não me lembro se da terra, se do restaurante.Mas a verdade é que me ficou para toda a vida a associação desse peixe a essa cidade. E também sei que me fizeram crer que as pessoas de Setúbal falam carregando na pronúncia dos R .
Não se pode dizer que seja tudo isto uma grande informação e pode sim dizer-se que é quase imperdoável... Mesmo ali à beira da Arrábida que percorri e frequentei nas suas múltiplas facetas (onde, tanto, a memória do Sebastião Gama,esse amigo !), mais modernamente, num simples cruzamento de estradas ao vir do sul para Lisboa...Bem, é já ali Setóbal !
Mas ,subitamente, comecei a ter essa cidade aos meus ouvidos várias vezes por dia : a violência, as juventudes delinquentes mas incompreendidas, a polícia enxovalhada, a Conunicação Social aos gritos e apitos, nós todos numa inquietação, eu, com um nó na garganta, a lembrar aqueles alunos da Tuna e da Escola,tão felizes, tão alegres, e também os polícias que conheci no meu trabalho, gente sã, meritória...Que é isto ?
Que é isto no meu país ?
E acontece outra vez Setúbal . O Concelho, a Diocese, e o seu povo... E de novo a Comunicação Social uma, duas , n vezes a insistir, a insistir...mas como se explica que o tom já não seja instigador da histeria irritada e irritante e se tenha mudado o registo das referências ao povo, a este mesmíssimo povo de Setúbal , do espaço alargado para fora da cidade, onde provavelmente as juventudes se podem equiparar ? É explicável ?
Agora trata-se de algo que se percebe bem todos respeitam, e não ousam cometer qualquer deslize, talvez nem bem saibam porquê...
São os espectaculares festejos de comemoração do 50º aniversário da existência do monumento a Cristo-Rei, implantado justamente na Diocese de Setúbal...
Há que considerar que o histórico e o político têm aqui um grande peso, mas o que provoca esta mudança de atitudes ?
Acaso não se trata da mesma Comunicação Social, dos mesmos "fazedores" de opinião ?
O convite à meditação perante o imenso espaço aberto à frente daquele monumento é sem dúvida feito pela beleza esmagadora da paisagem, toda material, mas do que ali SENTIMOS sobre nós e o mundo, sobre nós e a vida,
disso e de um certo inexplicável AMOR, de que o Mundo está carente, não encontramos forma de o materializar... Vejo agora nitidamente que o espiritual é mesmo o grande motor deste Mundo dos Homens, quer eles o entendam quer não ...
1 comentário:
Também a mim muito do que tenho visto na nossa televisão me tem causado espécie, até pensei que fosse da minha pouca paciência estes dias e do meu aborrecimento por não conseguir fazer quase nada, mas não. Partilha comigo essa estranheza, isso e a certeza "de que o Mundo está carente"...
Jinhos.
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