Platero, qué grato gusto amargo y seco el de la dificil piel, dura y agarrada como una raiz a la tierra! Ahora el primer dulzor, aurora hecha breve rubí, de los granos que se vienen pegados a la piel. Ahora, Platero, el núcleo apretado, sano, completo, con unos vuelos finos, el esquisito tesoro de amatistas comestibles, jugosas y fuertes, como el corazón de

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Yo ya no tengo granados, Platero.
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Caía el sol y los granados se incendiaban como ricos tesoros, junto al pozo en sombra que desbarataba la higuera llena de salamanquesas...
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Granada, fruta de Moguer, gala de su escudo! Granadas abiertas al sol grana del ocaso !...
Juan Ramon Jimenez — Platero y yo
A verdade é que não sabia muito bem como começar este meu post. Estive sim quatro dias divididos entre duas belíssimas cidades da Andaluzia, dividida também eu entre o suave estremecimento das recordações avivadas e uma espécie de revolta pelo que o desenvolvimento, o progresso, a modernidade, fizeram ás minhas recordações. Isto é para ser dito e não escrito, e, mesmo dito, deveria ser segredado. Não terei o direito de ser tão egoísta que pretendesse que o mundo parasse para perservar as minhas recordações... Mas se, no local onde, sob as pequenas laranjeiras carregadas de frutos a ponto de perfumarem alguns metros em redor, onde, repito, aí se trocaram ternas promessas de vida a dois e, agora, se lá vai encontrar um novelo de estradas entrecruzadas com um estonteante movimento de carros, fica-se com pena de que o jardim de laranjeiras não possa mais ser uma marca do amor no mundo... Claro que há outros e muitos e mais ainda... As cidades crescem, como as crianças... Estamos um tempo sem vê-las e, quase sem sabermos como, já estão para casar...
Por pensar em crianças, noutra cidade, não na das laranjeiras, lembrei-me de que alguém de quem me enamorei há largos anos tinha nascido quase lá. Esta é a cidade das romãs. E o meu poeta nasceu em Moguer onde, criança mesmo possuia um burrito, seu companheiro e amigo. Daqueles amigos especiais que apenas as crianças têm. Juan Ramon foi muito depois Prémio Nobel de literatura e creio que o seu burrinho prateado, as brisas já mediterrânicas de Moguer e as preciosas romãs terão sido a base sólida do esplendoroso lirismo do seu testemunho de vida. Por isso iniciei com ele este meu post, repassado de Sol andaluz, de perfumes andaluzes, todo ele em clima e alma aquilo que passou por mim como um sopro benfazejo com que, pela mão dos humanos, Deus me quis presentear...
