Tempo de férias, além de dar umas boas oportunidades a uma certa preguiça, dá espaços alargados para conversas inesperadas com pessoas que, noutra época, vemos pouco. E não é que nos sabem tão bem estes reencontros ? Fala-se de coisas novas e diferentes às quais não nos permitimos aceder quando andamos "programados" para o mais urgente dos nossos trabalhos...
Aconteceu-me agora, ao recordar com uma amiga da minha geração as nossas respectivas professoras e escolas que se chamavam primárias nessa época, relembrarmos como era prática habitual termos que debitar em determinadas aulas, poemas de autores consagrados ao tempo, os quais decorámos tão eficazmente que ainda agora, nestas nossa idades, os conseguimos declamar com muito poucas omissões. De recordação em recordação, fizemos reviver não só A BALADA da NEVE, mas também O PASSEIO de SANTO ANTÓNIO e o extraordinário NOIVADO do SEPULCRO . Mas as nossas memórias perderam-se com ...minha velha ama que me estás escutando canta-me cantigas para me embalar e também com o Amo-te ó cruz no vértice firmada de esplêndidas igrejas e ainda aquela dolorosa Venda dos Bois-:com que então você quer livrar o seu rapaz? e descascava um fruto... Perdemos autores( do que muito me envergonho, devo dizê-lo ) mas não imaginávamos sequer o enorme prazer que nos trouxe aquilo de que nos fomos lembrando ! Até nos vieram à memória alguns fragmentos de músicas com que alguns destes poemas foram mesmo musicados. Usou-se durante muito tempo cantar os bons poetas ao piano, em serões familiares, e aí também as meninas da família recitavam... Constatamos a "espessura", o "peso" dos temas ultra-românticos postos sem nenhum problema na boca das crianças que fomos , e comparamo-los com as infantilidades que se proporcionam às gerações de hoje , mesmo muito para a frente daquilo a que até se deixou de chamar primária.Afinal, tempo de férias pode ser por muitas vias tempo de revisões, de interrogações, de opções e também de decisões...
Sem comentários:
Enviar um comentário