24 maio 2008

As Amigas

Esta semana, como acontece em muitas outras, sem convites, sem olhar a alternâncias, partindo da iniciativa que a amizade dita e permite, elas vieram.Cada uma, é assim: A primeira,
entra, tira o casaco, larga sobre os sofás da sala o que traz nas mãos e vai dizendo desculpas se chega mais tarde do que o previsto ou contando peripécias da arrumação do carro ou do percurso até cá e,logo a seguir, vai à casa de banho refrescar-se...está em casa ! Irradia energia ,optimismo, companheirismo... A minha casa fica logo cheia mal ela entra.

Diferente, é a que vem tarde, muito tarde, quase hora de jantar, explicando suavemente porque queria não deixar de vir, dizendo que vai estar só uns minutos, sentando-se quase à beira da cadeira e quase sussurrando saudades, lembranças, porque agora vive longe e já não podem ter lugar aquelas intermináveis conversas...Com o passar dos tais minutos, vai-se acomodando, conta, sublinha quase tudo com um sorriso ou mesmo uma risada feliz...Afinal passam horas. Estamos tão em sintonia que não queremos quebrar este circulo de relatos e confidências que, de uma para a outra, se não interrompe mais...Quando sai deixa-me a casa impregnada de solidariedade.

Mal contenho a sensação de plenitude que se expande no meu peito, por tê-las como amigas,tão sólidas, tão dentro da minha vida, tão sabendo de mim tanto! Isto chamo eu de alegria.

Era mais velha do que eu, julgava eu que mesmo bastante mais. Soube agora que não era tanta a diferença quanto parecia. Vieram dizer-me que morrera pouco tempo antes da notícia que me traziam.Serenamente, no meio dos seus arranjos matinais. Era alegre e quando aqui chegava sempre tinha uma forma engraçada de maldizer a minha escada.Sentava-se fundo no sofá, tomava o fôlego que perdera a subir a escada e tratava-me por um diminutivo que ela própria criara, " e a tua vida, como vai?"...Assim começava uma lenta tarde de conversa, porque ela não tinha pressa, nem eu tão pouco. Interessava-a saber fosse o que fosse que a deixasse "avaliar", "perceber" qual era realmente o meu estado físico e espiritual... Não vou aqui falar, não quero, da
falta, do vazio, a seguir ao choque da notícia dada à queima-roupa...Não presença.Ausência.
Experiência já vivida com vários graus de angústia e desamparo, pareceria que podia estar imunizada... Mas não. Não se está nunca, para grau nenhum.

Três amigas.E esta classificação está gasta e não me é suficiente.A tristeza que me deixa a que já partiu, sei bem que as duas outras tão mais novas vão ajudar a dulcificar...

Costumo rezar uma oração que diz " meu Deus, faz do meu lar o teu santuário". E tomo como resposta a este pedido cada vinda inesperada destas pessoas que têm parte comigo como dizia Jesus...

3 comentários:

Joana disse...

Ai, que este seu último parágrafo me deixa os olhos a querer chover (e não é por solidariedade com o temporal lá fora!...)

Agora percebo por que a sua casa é um dos sítios mais maravilhosos que conheço... :) Às vezes dou comigo a sentir-lhe a falta e a engendrar uma visita a Lisboa sem motivo que não seja um serão nosso de gargalhadas ao sofá...

As suas amigas são-no e perfeitas, tal como é amiga e perfeita - apesar de haver a possibilidade de achar o contrário, é, mesmo!

Jinhos.

Anónimo disse...

Que bom!!!!
Amigas Verdadeiras...
Amigas Perfeitas...
Amigas com A grande...

Como deixou em mim todo esse coração cheio, de que fala...
tão cheia dessa ALEGRIA PLENA...

um beijo amigo
Vera

Anónimo disse...

Querida Lourdes!!!!
Achei teu blog num dia daqueles que estamos procurando para ler algo que nos responda aquilo que nem nós sabemos o que é. Adorei, e hoje não saio de casa sem dar uma passadinha para ler tão sábias palavras. Tenho 43 anos, casada, dois filhos, professora e sou de Lavras do Sul uma pequena cidade do estado de Rio Grande do Sul - Brasil. Quero que saibas que te admiro muito.Mil beijos