Extracto de memórias que tenho em livro.
Exemplo de meteorológicas sugestões foi hoje,em Lisboa,dia cinzento de Novembro,finamente embrulhado em nevoeiro, um friosinho fino a entrar-nos pelas narinas... ...E eu,pela rua, a caminho da Place Schumann, descendo até ao Berlémont, manhã cedo...Lá dentro, os elevadores, as alcatifas e as salas cujos quentinhos emanam dos madeiramenos que tudo revestem e parecem apenas feitos para abafar os nossos gestos e vozes. A grande bancada oval ou cicular com os seus apetrechos de som, ouvidos e olhos ávidos das nossas sempre diplomáticas palavras...E o respeito,muito respeito cívico imposto pelas bandeirinhas e tabuletas com nomes e símbolos que nos identificam e representam tantos outros países,como o nosso, em procura e por nosso intermédio, de tantos e tão necessários entendimentos ! Creio que nós, os intervenientes nesta estupenda e grandiosa missão de criar unidade a partir da multiplicidade, de fazer união do que, até então,era só individualismo( uns e outros às vezes utópicos), creio que nós nos sentimos todos mais ou menos intimidados perante aquelas bancadas envolventes de uma "bocarra" central,espaço vazio como uma goela de bicho,símbolo para muitos ,como para mim, do enorme vazio que tanta cabeça pensante dificilmente alguma vez conseguirá preencher satisfatoriamente, pelo menos enquanto actuando de forma tão aséptica e impessoal quanto nós o vamos fazendo, ali quase só números para as estatísticas da Eurostat,também ela asséptica e fria! Para nos sentirmos humanos, vale-nos o que, por detrás de nós,se desenrola de actividades logísticas várias: os tradutores,semi-murmurando nos seus camarotes; os secretários com os seus carrinhos atulhados de actas,notas,comunicados,estatísticas,mapas, memorandos, que metodicamente vão distrsbuindo;as hospedeiras com carrinhos mas estes com cafés,chás,águas e bolachinhas para todos os gostos, espalhando um rasto cheiroso que nos conforta e dá uma nota quase doméstica a toda aquela parafernália de profissionalismo e eficiência... ...
Depois,é o retorno ao cinzento frio nevoento exterior...Bruxelas anoitece introvertida,tal como amanhece.
Vamo-nos sózinhos ou em pequenos grupos,pelos boulevards super-povoados,super-iluminados, ou retomamos as auto-routes de saída para as banlieues que nos permitem ouvir o marulhar ao longe das matas húmidas e aromáticas como,por exemplo, a caminho de Waterloo...
É aqui que regresso à minha Lisboa de NOVEMBRO,hoje meteorologicamente disfarçada de cidade europeia,desligada, por este dia, dos ventos e marés cheirando a Áfricas e Índias...
1 comentário:
Como o nevoeiro pode ser admirável: que cativante viagem no tempo e no espaço!
Jinhos.
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