26 outubro 2008

26 de Outubro


Era preciso que eu fosse
múltipla, imensa
e pudesse
viver mais completamenie
cada hora recebida!

Era preciso que houvesse
mais vida pra ser vivida...

Mais surpresas
mais promessas
mais tentações
e mais luz...

... e que, inteira, eu me perdesse
na magia dos instantes
sempre plenos e diversos...

Era preciso que eu desse
mais de mim mesma
e ficasse
mais sossegada em seguida...

... mais saciada de Vida!...

Do meu livro OFERTA

25 outubro 2008

25deOutubro de 1147

LISBOA TEJO E TUDO...



Lisboa cravo e maresia
Lisboa meu nevoeiro,
crista da onda onde um dia
meu coração foi veleiro ! ...



Lisboa à beira da barra,
Lisboa à beira de mim.
Meu rio, barco e amarra...
Ida e volta, meu sem-fim...





Do meu livro SINESTESIAS

21 outubro 2008

Os grandes eventos

Já passaram dois dias sobre aquele tempestuoso sábado em que dois acontecimentos interessantes solicitavam a minha presença e entre os quais teria forçosamente que fazer escolhas, mas quero registá-los porque, curiosamente, um pouco de mim estava intimamente ligado a eles.

Primeiro : Encerramento da exposição Maria Callas.

Esta exposição abrira, se não me engano, em Junho e comemorava os 50 anos sobre a apresentação, no São Carlos, da Traviata, cantada pela grande Callas.
E aconteceu que, 50 anos atrás, eu ainda não era viúva e o meu marido, por inerência da sua profissão, esteve sempre em contacto com o senhor Meneghini, marido da cantora, nessa época, e com os outros acompanhantes dela, durante os dias da sua estada em Lisboa. Pensando a empresa que devia ser gentil, em termos femininos, com uma tão importante personagem e não tendo nos seus quadros ninguém que o fizesse como queriam, vieram pedir-me que fosse eu a fazer o que se chama as honras da casa à Callas, caso isso não me desagradasse muito... Naquela minha idade de então, como é que poderia desagradar-me tal missão ? Ela era uma ESTRELA mundial e eu ia ter a sorte de privar com tal "monstro" do grande espectáculo que aliás eu frequentava, sendo associada de um clube juvenil de música clássica. Foi portanto no ocorrer desse agradabilíssimo convívio que fomos vistas por muitos jornalistas, não tão "febris" e excitados como os de agora, mas presentes. Passados 50 anos, mostra-se a Lisboa a memória da bela mulher que ela era, dos seus lindos vestidos e adereços, do seu brilho, tão apaixonado e tão apaixonante na Lisboa dessa época. E não é que ali aparece uma jovem senhora junto dela que só eu sei que sou eu mesma ? Para mim, foi, maior que a surpresa, a emoção. Guardo agora com carinho a fotografia que estava à venda na Exposição e de cuja existência eu nem podia suspeitar.

Segundo: Concerto do grupo PEREGRINAÇÃO em São Roque

A minha aluna Margarida cujo amor pela música a não deixa desanimar nunca das suas aulas e ensaios no Conservatório, apesar da carga horária enorme a que isto a obriga junto com o seu 12.º ano, está fazendo uma verdadeira peregrinação de concertos, uns de fim de tarde, outros de noite, concertos que a maestrina criadora deste grupo coral vai programando. Trabalham com afinco as peças corais de música antiga, de música religiosa e de música tradicional e têm feito apresentações no estrangeiro, sendo que, para o presente ano lectivo, existe uma não confirmada e muito desejada deslocação à Rússia. Verifico que, com o seu tão grande brio profissional, para a Margarida, cada novo concerto tem o cariz de mais um teste através do qual ela se avalia a si própria. Por isso mesmo lhe interessa também ouvir opiniões de pessoas em cuja isenção ela confia. E São Roque parece ter sido uma boa prova, apesar da tempestade cá fora poder ter tido um efeito desmotivador, o que não aconteceu.

Quero ainda registar aqui um acontecimento ocorrido, não nesse tempestuoso sábado, mas no lindíssimo dia de domingo com que a natureza entendeu presentear-nos para compensar os estragos do dia anterior. E, sem muito ter que ver com a Natureza, mas sim com a disposição alegre que ela nos deu, foi o lançamento do primeiro livro do meu amigo Padre Lázaro Messias – Para uma Teologia Africana. A apresentação foi feita pelo ilustre professor da Universidade Católica e da Faculdade de Letras de Lisboa, Dr. José Eduardo Franco e creio que podemos dizer que terá tido as bençãos do Prior da nossa Paróquia, Monsenhor Victor Feytor Pinto, dado que foi ele quem falou sobre o Padre Lázaro da maneira como só ele o sabe fazer. Esta apresentação deixa-me feliz porque a considero mais um degrau vencido na trabalhosa caminhada do Padre Lázaro, a qual tenho acompanhado com muito interesse e admiração. E como é bom ver os amigos compensados da sua enorme entrega aos seus trabalhos !

18 outubro 2008

Tempestade

É uma perfeitíssima onomatopeia a palavra ribombar !
Pouco depois de termos almoçado, um acastelado de nuvens de vários tons de cinzento atirou-se a outros mais que andavam um pouco desnorteados por estes céus e, oh deuses das tempestades !, ribombou estrondosamente sobre as nossas cabeças, desfazendo-se imediatamente e sem aviso numa chuva de granizo, a maior que já me foi dado ver... Eram pequenos ovinhos de codorniz a despenhar-se furiosamente contra as nossas vidraças e a cobrir, num abrir e fechar de olhos, o asfalto da avenida, os capots dos automóveis, os toldos e carreiros dos jardins, os vasos das varandas... Tudo rápido e violentíssimo. Quando finalmente só ficou a chuva, havia um rio a correr nas bermas da avenida, depósitos de neve, muito alvos e impolutos, por todas as superfícies mais côncavas e milhares de folhas, folhinhas e raminhos a juncarem tudo quanto era chão. Pobres plantinhas mais frágeis parecem agora feridos de guerra !
Admirável Natureza que em momentos apenas pode destruir... talvez o Universo ! ! !
Sem que o Homem tenha tempo nem para dizer ai...
Perceberemos quanta inutilidade em toda a nossa vaidade ?

12 outubro 2008

A Crise

Passei, passámos todos uma semana de graves preocupações com o torrencial desabar de notícias em que todos os agentes noticiosos pareciam desafiar-se uns aos outros sobre a maneira mais dura de nos transmitirem que estamos, nós,pessoas, e país, a chegar à beira da penúria, porque uma complicada engrenagem bancária, envolvente de todo este nosso Mundo tinha de repente deixado que se soubesse que não havia mais dinheiro em parte alguma. Viver sem dinheiro foi coisa que ninguém nos ensinou e por isso ficámos todos a pensar que seria urgente desenvolvermos o primitivo sistema de trocas , coisa que também não se pode montar sem haver QUE trocar e o Mundo já está quase exaurido em dádivas generosas de produtos seus com os quais nós,homens, iamos fazendo dinheiro... Então, prometem-nos os apavorados governos, vamos ter que nos safar, que se me desculpe a expressão, mas é o que na realidade nos é dito . E é cada um por si, não há cá solidariedades para ninguém, porque, se isso foi o que resolveram para si mesmos os Governantes que já conversaram uns com os outros, isso é o que os governos vão ter que dizer aos governados.Suponho que ningém estava à espera de que houvesse governos-fadas, mas o de que ninguém estava à espera certamente era de que, por uso e abuso de políticas mal conduzidas e mal aplicadas, por uso e abuso da permissividade nos consumos das diferentes classes sociais, se atingisse um fundo tão fundo que agora ninguém sabe se se pode emergir ou como se pode emergir...
Espantosamente àqueles que temos a Graça de ter FÉ, as Escrituras vêm tanta vez lembrar-nos que somos povo de Deus e que dessa realidade emana sempre uma razão de Esperança !...
Neste ano dedicado a meditar S.Paulo, são lidas em cada missa passagens das suas cartas cheias daquele fervor que é apanágio dos convertidos. Pois na missa de hoje, na sua Carta aos Filipenses, dizia SÃO PAULO:
Sei viver modestamente e sei viver na abundância.Em todo o tempo e em todas as estações.Estou preparado para comer com fartura e para passar fome, para viver na abundância ou viver na penúria. Tudo posso por Cristo, que me dá força. ...o meu Deus há-de plenamente prover a todas as vossas necessidades, segundo a Sua riqueza, de maneira maravilhosa, em Cristo Jesus...
É assim com o respaldo das minhas convicções, com o conforto de coincidências como a desta Carta, (logo hoje) que eu consigo encontrar razões de esperança e sou capaz de tentar entrar nesse jogo político do cada um por si... Infelizmente não apenas político !

01 outubro 2008

1 de Outubro- Dia Mundial da Música

Deixo entrar pela casa
a grande música !
Bach, Orff, Vivaldi,
Beethoven e Rodrigo...
Dvorak ou Falla...
E Tchaikowsky !
E Grieg !...
Entram em catadupas,
Em cascatas,
e despenham-se
e enrolam-se em espirais
como tornados.
E envolvem
e revolvem,
como um alagamento
ou uma convulsão...


Quando subitamente
se desdobram e espraiam,
e toda a cachoeira se desfaz,
são, borbulhando em espuma,
um mar manso e aberto,
um remanso de rias
ou represas,
ou lagos... ...

E o que fica no ar
é parecido com a paz
dos prazeres
saciados ! ! ! ...

Do meu livro Sinestesias